domingo, 25 de julho de 2010

Maçã

São 22:01h e ela acabou de sair do banho. Dá para sentir o cheiro do perfume do hidratante daqui. Pé apoiado no vaso sanitário em uma cena clássica de deleite. Meu deleite. As mãos subindo dos pés à coxa, massageando cada pedaço de pele lisa, branca. Ela está usando um hidratante diferente, mais cheiroso, deixando claro que a noite será fértil. Quero que seja fértil.
Colocou uma lingerie preta – ela fica linda de preto. Passa as mãos nos cabelos ondulados, os deixa cair sobre o ombro esquerdo e me pede para abotoar o sutiã, como quem passa só o dedo de doce na boca de uma criança. Seguro as alças e olho por cima do ombro direito, como ela espera que eu faça, procurando seu colo.
Seu seios são perfeitos, esnobes, rosados. Foram os primeiros a despertar minha curiosidade quando a conheci. Sob a blusa verde, apertada, assistia o seu espreguiçar naquela mesa de bar hipnotizado, sem saber se seria capaz de voltar a mim, querendo me perder ali naquele momento como um bebê faminto. Ela percebeu - como não perceberia meus olhos derretidos, minha língua a passear pelo céu da boca, salivante? - e, exibida que só, fez questão de precisar se alongar mais um pouco. Eu adorei. Talvez mais alguns também.
O vestido de seda azul fui eu que dei. A seda tocando seu corpo me faz entender como uma mulher deve ser tocada. Um tocar tão leve que estimula qualquer fio a se levantar e ver o que acontece, calmo, degustado, fresco. Um não-tocar ouriçante soberbo. A maquiagem é leve, o perfume é natural.
- Você tem certeza? – Ela me perguntou.
- Toda, eu afirmei.
- Como estou?
- Como se pecasse a todo segundo.
Se debruçou sobre mim e me beijou. Doce. Seu beijo confunde, parece-me brincar com uma lichia bem lisa, daquelas que águam a boca só de tocar a língua. Com minhas mãos em seus quadris me senti instigado a acariciá-la e sugar aquele pedaço de pele para a minha palma, levantando o seu vestido azul por conseqüência. Não o fiz e alimentei nela ainda mais a idéia da proposta feita. Estava excitado com a possibilidade que se abriria a partir daquela noite. Ela não precisava dizer nada, era só olhá-la que seu corpo respondia com precisão.
Assim, ela atravessou a porta às 22:43h para voltar depois das 03:30h um pouco menos imaculada. Eu a esperava acordado.