terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Casa desarrumada. A sujeira no chão da sala é constante. Roupas, meias, bolas de papel amassadas... A caixa de areia do gato está lotada de fezes. Do outro lado da cozinha, ração espalhada pelo chão. "Esse gato não é mole..." ela pensa ao chegar em casa, já tropeçando no gato que se esfrega em seus tornozelos dificultando o andar por aquele espremido espaço. Ela repara que a pilha de louça aumentou. Suspira, cansada só por pensar no trabalho que ainda irá ter. No banheiro, o chuveiro está ligado e de lá vem um "Oi, amor!" cotidiano.
- Não deu pra lavar a louça, não briga comigo!
Ela vai até o banheiro e por entre as cortinas do chuveiro eles se beijam. Seu nariz, bochechas, queixo e lábios se molham através dos dele e algumas gotas respingadas nos seus olhos fazem a maquiagem cansada escorrer como uma lágrima negra face abaixo. Ela senta no sofá, acende a ponta do baseado que está no cinzeiro e ali fica, imóvel por quase cinco minutos.
Era como se ela soubesse o que estava por vir...
Fechou os olhos. "Patacori ô Ogum..."
Por um instante ainda sentiu o chão tremer.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012


Todo lugar que ela freqüenta há um indivíduo apaixonado por ela.
Tem um jeito lânguido que suga à vapores. Há vapores também, ela causa vapor. É quente, meio apimentada no suor,  desenrola desengonçadamente.

Ela está debruçada na janela, pensativa.  Não sabe como resolver um assunto do coração e isso a tira do eixo. Ela sente necessidade de resolver as coisas na base da lógica. Coisa chata essa. Ela é chata. E no momento ela também não está lidando muito bem com os conflitos cotidianos. Não sabe sair das situações e sempre se constrange. Fala muito.

Estava desesperada, necessitando abraçar pessoas boas e dizer sentimentos sinceros, por isso recorreu:

“Maria Mulambo, você cuida do coração de todos, cuida do meu também...”

Deu mais um tapa antes de dormir.