quarta-feira, 25 de maio de 2011

João de Amor; Maria de Dor

Mania de Maria, de querer ser João
João é leve
João é breve
Cheiro infindo sensação
Sopro de cócega permissão

João morreria sem Marias como são
Maria é doçura
Maria é tortura
Vida solar solução
Descanço secreto amarração

*

Destino de João, de querer ser Paixão
João é olhar
João é tocar
Pulmão pulsando coração
Coração pulmando pulsação

Maria saberia se não lhe dissesse João
Maria vê
Maria crê
Broto de rosa intuição
Mente alma palma da mão

*

João distraído em complicada atração
João de agarrar
João de sonhar
Impulso deságua ação
Cama viva cordão

Maria de vestido em meio a multidão
Maria dança
Maria trança
Calma elegante tentação
Caos ruído contra mão

*

João dividido entre o sim e o não
João de perigo
João proibido
Ar em assalto confusão
Sangue correndo percussão

Agonia de Maria, de só ser sofreguidão
Maria que ama
Maria que chama
Dor de mulher furacão
Medeia versus Jasão

*

Mania de Maria, de querer ser João
João é quente
Maria é semente
Reina queima fecundação
Foco toco adoração

João morreria sem Marias como são
João de maldade
Maria de saudade
Paciência calma proteção
Yemanjá colo oração

terça-feira, 17 de maio de 2011

- O que eu teria dito -

Não deita nesse colo aí que já não te comporta mais. Você cresceu, inflou. Precisa de espaço para que nasçam novos limites em outros terrenos.
Agora há um novo par de lábios a te umidecer. Olhos de natureza a percorrer suas nuances. Seus suspiros, seus suores, sua saliva... Nada em você reconhece mais o endereço antigo. E nem deveria... Se seu corpo só esquenta contra o meu, o que seu calor haveria de fazer por aí? No mundo há tantos corpos, tantas misturas. Por que se ater ao singular quando o plural está pulsante, colecionando singularidades mis? E eu já vi sua pluralidade, então não a negue. Ignorá-la é incitar alergias no plexo solar, sonhos desvirtuantes, tentações. E há tantas coisas em comum, tantas coinscidencias... Aqui ninguém gosta de arroz. Ou de roupas. A gente te prefere nu. A gente também gosta de só dormir agarrado, de arrebentar calcinhas, de atirar travesseiros, de usar bigodes, de dançar quando tocam música. A gente também adora te beijar. Costas, pescoço, peito, barriga, pernas, dedos, palmas, lábios, lábios, lábios... São tantos lábios...
Já me disseram que só há dor onde há resistência. Então, quando a confusão passar, de certo passará, e você voltar a sorrir sinceramente, abra os olhos e enxergue que o pedaço que está faltando aí é o fluxo que você teima em não obedecer, destruindo a organicidade sensorial natural da vida. Ele virou liberdade com gosto de pele. Minha pele. E eu te desafio a vir buscá-lo.