quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"A Serenata"

"Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis
tocar flauta no jardin.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?"


Adélia Prado
Quero me ter e te ter não me detém.
Não me tenho, pois não se pode ter o que não se apreende.
Um não sei verbalizado, mimado. Gelado.
Não se cabe em mãos ou órgãos. Está no ar.
Quando se inspira e infla. Nos músculos deconhecidos. Em têmporas...
Caia em mim e em si. Demore em mim que solto a ti.
Solta-me a mim também! E sejamos brisa eu e tu, como num só respiro eterno.
Árvores divinas. Vivos.