sexta-feira, 22 de abril de 2011

Manhosa 1.

Um dia, gatinha manhosa, eu prendo você no meu coração. Quero ver você fazer manha então...”, ele cantava para ela diariamente. Ela ria, mostrava a língua, franzia o nariz em inocente desdém. Não queria mais ser tratada como uma criança, apesar de ter deixado a infância apenas em sonhos que se tornariam brutalmente lúcidos mais tarde, como em susto, por obrigação.
Ele jamais a trataria de outra forma que não a de um urso apegado a um filhote de gato, ou gata. Protegendo com enormes e desajeitadas patas um ser que em sua palma peluda e virgem se aconchegava em paz e dormia o mais leve dos sonos, imaculado. Ele o lamberia em banho, cuidaria de uma ferida ou outra que o viver teimasse em lhe dar, saciaria sua fome e sede, o deixaria viver em qualquer parte do seu corpo como o bel prazer lhe coubesse.
E assim seria enquanto ele vivesse.

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