quinta-feira, 21 de novembro de 2013

língua viva


Eram dois, mas sabiam-se mais. Cheiravam-se sempre que possível, odor é gosto e aquele não haveria de desaparecer facilmente da língua. Logo aquele, e justamente aquele que ardia e queimava por todo o caminho até os pulmões. Talvez se houvesse menos dano à saúde o olfato não lhe fosse curioso.
Fato era: um odor tanto quanto febril foi inventado naquele instante. Daí fez-se o termômetro e para cada vida, uma validade.
Costas para costas, caminharam em sentidos opostos, contando os passos para sacarem suas habilidades. Já no silêncio, olharam para trás, aquela olhadela derradeira cheia de receio e certeza ao mesmo tempo. Não esperavam cruzar olhares, seria movimento impiedoso, mas lá olhavam-se agora.
Haviam se acalmado em seus peitos, mas o calento estava com jeito de chama; até fica estática porém nunca para de queimar.
Voltar o nariz para frente agora seria uma dor menos aguda, mais macia, mas não menos dor. 
Gente ousada é essa que se aconchega no embalo do torto, respira combustível e mantém a língua viva.

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